Última alteração: 2016-10-10
Resumo
Olavo Costa Candolo1, Lucas Bertacini Viégas2, André Luiz de Camargo Villalba 3, Magali Ribeiro da Silva 4
1Graduando em Engenharia Florestal pela UNESP/FCA – Botucatu, olavo95@hotmail.com
2Doutorando em Ciêcia Florestal pela UNESP/FCA – Botucatu
3Graduando em Engenharia Florestal pela UNESP/FCA – Botucatu
4 Profª Assistente Drª, Departamento de Ciência Florestal, UNESP/FCA – Botucatu
1 INTRODUÇÃO
A espécie Archontophoenix cunninghamiana, conhecida no Brasil como Palmeira real é originária da Austrália, cujo cultivo tem se expandido nos Estados de Santa Catarina, Paraná e São Paulo, para a produção de palmito de qualidade em substituição à exploração predatória de espécies nativas. Esta espécie é utilizada como ornamental devido à beleza do estipe e das folhas (BOVI, 1998; CHARLO et al., 2006).
A qualidade das mudas é consequência das características genéticas da espécie propagada e das condições específicas de manejo no viveiro (ALFENAS et al., 2004). E, uma muda de qualidade pode ser definida como aquela adequada ao propósito ou aplicação a que se destina (MATTSSON, 1996), de maneira a obter maior uniformização e promovendo uma rusticidade tal que, após o plantio, permita que elas cresçam satisfatoriamente (GOMES et al. adaptado, 2002).
Estudos que visem o uso sustentável dos recursos naturais, como manejos de irrigação aplicados em viveiros florestais representam um avanço para o setor de produção de mudas.
O conhecimento do manejo hídrico em viveiros florestais é um fator determinante para se produzir mudas de qualidade (DELGADO, 2012). Dessa forma, é importante entender as necessidades hídricas das espécies produzidas em recipientes pequenos, pois a aplicação de água é um dos fatores mais importantes em todo o ciclo produtivo da planta, podendo o excesso desta ocasionar prejuízos ambientais e econômicos, enquanto o déficit causar baixo crescimento e morte das mudas (MONTAGUE; KJELGREN, 2006).
Com isso, o objetivo deste experimento foi averiguar a influência de três lâminas de irrigação diária no desenvolvimento de mudas de A. cunninghamiana em tubetes.
2 MATERIAL E MÉTODOS
O experimento foi conduzido no período de fevereiro/2015 a outubro/2015, em viveiro suspenso localizado nas coordenadas 22º51’03’’ Sul e 48º25’37’’ Oeste, altitude média de 840 m e clima do tipo Cwa, segundo classificação de Köppen.
Aplicou-se o delineamento inteiramente ao acaso, sendo testadas três lâminas brutas de irrigação (8, 10 e 12 mm) fracionadas em duas vezes ao dia. Cada tratamento foi composto por 32 plantas.
Foi utilizado tubetes de polietileno com capacidade de 92 cm3. Como suporte foram usadas bandejas planas de polietileno. A ocupação na bandeja gerou uma densidade de 183 mudas por m2.
O substrato usado foi um produto comercial constituído por turfa de Sphagnum,vermiculita e casca de arroz carbonizada na proporção 2:1:1 (base volume).
As sementes foram coletadas na fazenda Lageado, em Botucatu. Após beneficiadas, foram colocadas para germinar em caixas plásticas com o mesmo substrato.
Quando as plântulas apresentavam em média com 6,0 cm de altura foram transplantadas para o tubete, permanecendo quatro semanas em casa de vegetação, e em seguida alocadas em canteiros suspensos (tipo mini túnel) cobertos com plástico difusor de luz, para controle da precipitação. Foi usado sistema de irrigação por microaspersão com vazão de bocal de 200 L h-1, acionado automaticamente.
Durante este período, as adubações de crescimento foram realizadas duas vezes por semana, com uma lâmina bruta de 4 mm de solução nutritiva aplicada via fertirrigação em todos os tratamentos. A solução de crescimento foi composta pelos fertilizantes monoamôniofosfato purificado, sulfato de magnésio, nitrato de potássio, nitrato de cálcio e uréia nas concentrações de 488; 155,4; 328,1; 312; 72,2 e 98,8 mg L-1 de N, P, K, Ca, Mg e S, respectivamente e a solução de micronutrientes, por ácido bórico, molibdato de sódio e sulfatos de manganês, zinco, cobre e ferro nas concentrações de 3; 3,9; 1,2; 0,6; 0,3 e 48 mg L-1 de B, Mn, Zn, Cu, Mo e Fe, respectivamente.
A avaliação do desenvolvimento e qualidade das mudas ao final do experimento foi constituída por: altura da parte aérea (H), diâmetro de colo (D), massas secas da parte aérea (MSA) e radicular (MSR). Foram calculadas a massa seca total (MST), a relação altura/diâmetro (H/D) e o Índice de Qualidade de Dickson (IQD).
Os dados foram submetidos ao teste de normalidade, em seguida, à análise de variância e, nos casos em que houve diferenças significativas, realizou-se o teste de Tukey a 5% de probabilidade para comparação das médias.
3 RESULTADOS E DISCUSSÃO
As mudas de palmeira A. cunninghamiana estavam aptas ao plantio em campo aos 240 dias após a aplicação dos tratamentos.
As variáveis morfológicas altura, diâmetro, relação altura diâmetro, massas secas (aérea e total) não sofreram influência do manejo hídrico, dessa forma as mudas são similares entre si (Tabela 1).
Tabela 1. Efeito do manejo de irrigação nas variáveis morfológicas das mudas aos 240 dias após aplicação das lâminas diferenciadas.
Lâmina
(mm)
H
(cm)
D
(mm)
H/D
MAS
(g)
MSR
(g)
MST
(g)
IQD
8
14,5 a
14,30 a
1,02 a
5,40 a
1,90 a
7,76 a
1,89 a
10
14,5 a
14,76 a
1,00 a
5,11 a
1,44 b
6,44 a
1,42 b
12
13,2 a
14,20 a
0,95 a
4,26 a
1,38 b
5,64 a
1,39 b
CV (%)
19,9
17,5
20,2
23,0
14,1
23,0
13,0
Médias seguidas por letras minúsculas iguais na coluna, dentro da mesma variável, não diferem estatisticamente pelo teste de Tukey (p < 0,05). H – altura, D – diâmetro de colo, MSA – massa seca aérea, MSR – massa seca radicular, MST – massa seca total, IQD – índice de qualidade de Dickson.
Para a massa seca radicular e Índice de Qualidade de Dickson, a lâmina de irrigação de 8 mm foi superior às demais.
Levando em consideração os resultados obtidos e o fato de que a tecnologia e os estudos para a produção de mudas de palmeiras em viveiros é incipiente, pode-se observar que a espécie Archontophoenix cunninghamii não tem exigência por grande quantidade de água na fase de desenvolvimento inicial em tubetes, o que é considerado um fator positivo tanto em questões econômicas como a redução do uso da água e custos de produção quanto ao uso sustentável dos recursos.
A grande quantidade de água requerida para a prática da irrigação, o decréscimo de sua disponibilidade e o alto custo da energia necessária à sua aplicação tem aumentado o interesse pela racionalização desse recurso, de forma a minimizar suas perdas. Portanto é necessário diminuir a quantidade de água aplicada via irrigação, sem, contudo, comprometer a produção final, por isso atualmente o emprego da irrigação localizada vem sendo muito aplicado com esse objetivo (FREITAG, 2007).
Com o desenvolvimento tecnológico e a criação de diferentes métodos de irrigação e metodologias de manejo, a irrigação se tornou um fator importante para se ter uma eficiência na produção, de forma moderna e com garantia de qualidade dos produtos tendo destaque para o ganho de produtividade (FREITAG, 2007).
A irrigação em viveiro florestal merece uma atenção especial, devido ao alto consumo de água, pois de acordo com a secretaria do meio ambiente, um viveiro de porte médio, com produção de 100 mil mudas por ano, necessita de aproximadamente 10.000 litros d’água diários.
A qualidade de mudas garante a minimização dos custos, enquanto que mudas de baixa qualidade incrementam os custos devido à adoção de medidas adicionais de tratamento em função da baixa sobrevivência no campo (FERREIRA, 1997).
4 CONCLUSÕES
Não houve influência das três lâminas de irrigação no desenvolvimento de mudas de A. cunninghamiana em tubetes, com isso, recomenda-se o uso da lâmina de irrigação que necessita menor quantidade de água para produzir mudas com qualidade.
5 REFERÊNCIAS
ALFENAS, A.C.; ZAUZA, E.A.; MAFIA, R.G.; ASSIS, T.F.de. Clonagem e doenças do eucalipto. Viçosa: UFV, 2004, 442p.
BOVI, M.L.A. Cultivo da palmeira real australiana visando à produção de palmito. Campinas: Instituto Agronômico de Campinas, 1998. 26p. (Boletim Técnico, 172).
CHARLO, H.C.O. et al. Aspectos morfológicos, germinação e desenvolvimento inicial de plântulas de Archontophoenix alexandrae (F. Mueller) H. Wendl. & Drude (Arecaceae) em diferentes substratos. Revista Árvore, v.30, n.6, p.933-940, 2006.
DELGADO, L. G. M. Produção de mudas nativas sob diferentes manejos hídricos / Luiz Gustavo Martinelli Delgado. Dissertação (Mestrado em Ciência Florestal) apresentada a Universidade Estadual Paulista Júlio de Mesquita Filho/ SP – Botucatu : [s.n.], 2012.
FERREIRA, C.A.G., Aspectos de relações hídricas e crescimento de mudas de Eucaliptus spp. Produzidas em tubetes e aclimatadas. 1997, 60 f. Dissertação de mestrado em Engenharia Florestal, Universidade Federal de Lavras, 1997.
FREITAG, A. S. Frequências de irrigação para Eucaliptus grandis e Pinus elliot em viveiro. 60 p. Dissertação de mestrado, Programa de Pós graduação em Engenharia Agrícola, Universidade Federal de Santa Maria – RS, 2007.
GOMES, J. M.; COUTO, L.; LEITE, H. G.; XAVIER, A.; GARCIA, S. L. R. Parâmetros morfológicos na avaliação da qualidade de mudas de Eucalyptus grandis. 10 p. Revista árvore, v.26, n.6, p.665-664, 2002.
MATTSSON, A. Predicting field performance using seedling quality Assessment. New Forests, v. 13, p.223–248 , 1996.
MONTAGUE, T.; KJELGREN, R. Use of thermal dissipation probes to estimate water loss of containerized landscape trees. Journal of Environmental Horticulture, v. 24, n. 2, p. 95-104, 2006.