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INFLUÊNCIA DA PODA FOLIAR NA QUALIDADE DE MINIESTACAS DE Eucalyptus urograndis
André Luiz de Camargo Villalba, Lucas Bertacini Viégas, Olavo Costa Candolo, Magali Ribeiro Silva

Última alteração: 2016-12-02

Resumo


André Luiz de Camargo Villalba1, Lucas Bertacini Viégas2, Olavo Costa Candalo3, Magali Ribeiro da Silva 4

1Graduando em Engenharia Florestal pela UNESP/FCA – Botucatu

2Doutorando em Ciêcia Florestal pela UNESP/FCA – Botucatu, lucasbertacini@yahoo.com.br

3 Graduando em Engenharia Florestal pela UNESP/FCA – Botucatu

4 Profª Assistente Drª, Departamento de Ciência Florestal pela UNESP/FCA – Botucatu

 

1 INTRODUÇÃO

A propagação vegetativa por estaquia é uma técnica utilizada com êxito na produção de mudas clonais de eucalipto (Eucalyptus spp.) no Brasil, que teve seu início ao final da década de 1970 (XAVIER et al., 2009). Esta técnica propicia muitas vantagens, como o aumento das taxas e qualidade do enraizamento e redução de tempo, para formação da muda (CORREIA et al., 2015).

Há diferentes fatores que podem influenciar o enraizamento das estacas em Eucalyptus spp., como a época de colheita, material genético, presença de folhas, tipo de substrato, umidade e temperatura (BORGES et al, 2011; HARTMANN et al., 2011).

Quanto ao padrão das estacas, é convencionado que as miniestacas apresentem de 4 a 8 cm, com dois pares de folhas com redução à metade ou proporcionalmente ao tamanho da estaca (XAVIER et al., 2009) ou, pelo menos a um terço de seu tamanho (ALFENAS et al., 2009).

A técnica de redução da área foliar das miniestacas tem como objetivo diminuir a transpiração excessiva e evitar o efeito guarda-chuva, que pode interferir na eficiência do sistema de irrigação, impedindo a chegada de água no substrato. O cuidado com o corte das folhas é essencial, pois pode ser uma porta de entrada de fungos durante a fase de enraizamento (ALFENAS et al., 2009).

As folhas são essenciais para o enraizamento devido ao acúmulo de carboidratos, resultantes da fotossíntese, e de auxinas pelas gemas apicais, e a manutenção das folhas é muito importante, pois favorece o processo de enraizamento das miniestacas (HARTMMAN et al., 2011).

Nesse contexto, o objetivo deste experimento foi avaliar a influência da poda foliar em miniestacas na produção de mudas de Eucalyptus grandisE. urophylla, durante a época do verão.

 

2 MATERIAL E MÉTODOS

O experimento foi conduzido no período de novembro/2014 a fevereiro/2015, em viveiro suspenso e setorizado do Departamento de Ciência Florestal da Faculdade de Ciências Agronômicas de Botucatu – UNESP, localizado nas coordenadas 22º51’03’’ de latitude Sul e 48º25’37’’ longitude Oeste, altitude média de 840 m e clima do tipo Cwa, segundo classificação de Köppen, e precipitação média anual de 1.358 mm.

Foram realizados três tipos de poda foliar (0%, 50%, 75%) em folhas grandes (≥ 5 cm) das miniestacas de Eucalyptus urograndis clone 144. Após o estaqueamento, as mudas permaneceram em casa de vegetação com irrigação do tipo nebulização por 30 dias, e posteriormente foram encaminhadas à área de pleno sol em canteiros suspensos (tipo mini túnel) cobertos com plástico difusor de luz, em que se aplicou uma lâmina de irrigação diária de 12 mm. Foram utilizadas 42 mudas úteis/tratamento (espaçamento de 50%) com duas repetições por tratamento.

Foram utilizado tubetes de polietileno com capacidade de 55 cm3. Como suporte foram usadas bandejas planas de polietileno com capacidade de 176 células.

O substrato usado foi um produto comercial constituído por turfa de Sphagnum, vermiculita e casca de arroz carbonizada na proporção 2:1:1 (base volume).

A avaliação do desenvolvimento e qualidade das mudas ao final dos experimentos foi constituída por: altura da parte aérea (H), diâmetro de colo (D), massas secas da parte aérea (MSA) e radicular (MSR). Foram calculadas a massa seca total (MST), a relação altura/diâmetro (H/D) e o Índice de Qualidade de Dickson (IQD).

Os dados foram submetidos ao teste de normalidade, em seguida, à análise de variância e, nos casos em que houve diferenças significativas, realizou-se o teste de Tukey a 5% de probabilidade para comparação das médias.

 

 

3 RESULTADOS E DISCUSSÃO

Aos 88 dias após o estaqueamento, as mudas de E. urograndis estavam aptas ao plantio, independente do tipo de poda foliar, mostrando que pode haver uma redução de custos com a mão-de-obra e otimização desta atividade, além de evitar a proliferação de patógenos.

O tipo de poda foliar não apresentou influência no desenvolvimento das mudas, dessa forma, para cada variável morfológica os resultados foram similares entre si (Tabela 1). O nível de 0% de redução foliar é corroborado em híbridos de E. urophylla (SANTANA et al., 2010) e Santana et al. (2013), em híbridos de E. grandis x E. urophylla (SOUZA et al., 2013) e em híbridos de E. globulus (CORREIA et al., 2015).

 

Tabela 1. Efeito da poda foliar nas variáveis morfológicas das mudas ao 88 dias após o estaqueamento.

Poda foliar (%)

H

(cm)

D

(mm)

H/D

MSA

(g)

MSR

(g)

MST

(g)

IQD

0

32,9 a

3,38 a

9,80 a

1,26 a

0,61 a

1,87 a

0,16 a

50

33,8 a

3,57 a

9,50 a

1,39 a

0,71 a

2,11 a

0,18 a

75

34,3 a

3,47 a

10,00 a

1,34 a

0,68 a

2,01 a

0,17 a

CV (%)

13,8

16,1

14,6

38,9

35,8

34,2

28,6

Médias seguidas por letras minúsculas iguais na coluna, dentro da mesma variável, não diferem estatisticamente pelo teste de Tukey (p < 0,05). H – altura, D – diâmetro de colo, MSA – massa seca aérea, MSR – massa seca radicular, MST – massa seca total, IQD – índice de qualidade de Dickson.

 

Para Alfenas et al. (2009), a utilização de miniestacas sem redução da área foliar tem apresentado aumento no enraizamento e controle de doenças, pois, como não se realiza ferimentos nas folhas, evita-se a abertura de portas de entrada para patógenos.

Segundo Santana et al. (2013) a obtenção destes resultados pode ser explicada pelo sistema de irrigação empregado, os quais possibilitam que o ambiente protegido apresente alta umidade e redução do déficit de pressão de vapor, evitando a desidratação e morte das estacas antes do enraizamento. Souza et al. (2013) inferem que durante a casa de vegetação e de sombra, as miniestacas que não tiveram redução da área foliar, não apresentaram o efeito guarda-chuva e a transpiração excessiva, sendo que, não reduziram a eficiência da irrigação neste dois ambientes. A importância destes dois efeitos estão relacionados com a perda de água, que é uma das principais causas de morte das miniestacas previamente a formação do sistema radicular, em que, para divisão celular ocorrer é necessário que as células dos tecidos das miniestacas estejam túrgidas (NORBERTO et al., 2001).

A presença das folhas nas miniestacas é primordial para seu enraizamento, pois está relacionado ao processo da fotossíntese que armazena carboidratos na folha, e, favorece o crescimento do sistema radicular (HARTMANN et al., 2011).

 

4 CONCLUSÕES

Não houve efeito do tipo de poda foliar no desenvolvimento das mudas produzidas por miniestacas de híbridos de E. urograndis, aos 88 dias após o estaqueamento.

É recomendado a não remoção das folhas das miniestacas, uma vez que irá evitar injúrias para a entrada de patógenos e, redução de custos com o aumento da atividade operacional.

 

5 REFERÊNCIAS

ALFENAS, A. C.; ZAUZA, E. A. V.; MAFIA, R. G.; ASSIS, T. F. Clonagem e doenças do eucalipto. 2.ed. Viçosa, MG: Universidade Federal de Viçosa, 2009. 500p.

 

BORGES, S. R. et al. Enraizamento de miniestacas de clones híbridos de Eucalyptus globulus. Revista Árvore, v.35, n.3, p.425-434, 2011.

 

CORREIA, A.C.G.; XAVIER, A.; DIAS, P.C.; TITON, M.; SANTANA, R.C. Redução foliar em miniestacas e microestacas de clones híbridos de Eucalyptus globulus. Revista Árvore, v.39, n.2, p.295-304, 2015.

 

HARTMANN, H. T.; KESTER, D. E.; DAVIES Jr, F. T.; GENEVE, R. L. Plant propagation: principles and practices. 8.ed. New Jersey: Prentice Hall, 2011. 915p.

 

NOBERTO, P. M.; CHALFUN, N. N. J.; PASQUAL, M.; VEIGA, R. D.; PEREIRA, G. E.; MOTA, J. H. Efeito da época de estaquia e do AIB no enraizamento de estacas de figueira (Fícus carica L.). Ciência e Agrotecnologia, v.25, n.3, p.533-541, 2001.

 

SANTANA, R. C.; DUTRA, T.R.; CARVALHO NETO, J.P.; NOGUEIRA, G.S.; GRAZZIOTTI, P.H.; BARROS FILHO, N. F. Influence of leaf area reduction on clonal production of eucalyptus seedlings. Cerne, v. 16, n. 3, p. 251-257, 2010.

SANTANA, R. C. ; FERNANDES, S. J. O. ; TITON, M. ; XAVIER, A. ; DE SOUZA, P. F. ; BARROS FILHO, N. F. Effect of Minicutting Length and Leaf Area Reduction on Growth and Nutritional Status of Eucalypt Propagules. ISRN Forestry , v. 2013, p. 1-6, 2013.

 

SOUZA, C.B.; XAVIER, A.; LEITE, F.P.; SANTANA, R.C.; LEITE, G.L. Padrões de miniestacas e sazonalidade na produção de mudas clonais de Eucalyptus grandis Hill x E. urophylla S. T. Black. Revista Árvore, v.37, n.1, p.67-77, 2013.

 

XAVIER, A.; WENDLING, I.; SILVA, R. L. Silvicultura clonal: princípios e técnicas. Viçosa, MG: Universidade Federal de Viçosa, 2009. 272p.


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