Última alteração: 2017-10-11
Resumo
INTRODUÇÃO:
A espondilomielopatia cervical (EC) é caracterizada pela compressão estática ou dinâmica de componentes neurais, provocando graus variáveis de déficit neurológio e dor cervical (RAMOS et al., 2015). De etiologia ainda desconhecida, afeta mais comumente cães de raças gigantes como Doberman Pinscher, Dogue Alemão, Bernese Mountain Dog e Bull Mastiff (VAQUERO et al., 2015). Possivelmente está relacionada com fatores genéticos, congênitos, nutricionais, crescimento rápido e conformação corpórea2. Protrusão do disco intervertebral, abaulamento do ligamento flavum e proliferação de facetas articulares são as possíveis causas da estenose do canal com consequente compressão medular (PROVENCHER et al., 2016). Flexão e extensão da coluna vertebral cervical são fatores dinâmicos que contribuem para a progressão da doença (PROVENCHER et al., 2016). Em humanos, a imagem por ressonância magnética cinemática já é utilizada para a avalição de causas dinâmicas da EC (PROVENCHER et al., 2016). A ressonância magnética cinemática é a aquisição de imagens com a estrutura de interesse em diferentes posições e tem sido descrito como o melhor método de avaliar lesões dinâmicas (PENDERIS e DENNIS, 2004).
RELATO DE CASO:
Cão, macho, da raça Doberman Pinscher, 6 anos de idade, foi encaminhado apresentando como queixa principal dismetria, algia cervical e lateralização de movimentos pélvicos. Ao exame físico o animal apresentou hipermetria, ataxia e hemiparesia de membro pélvico esquerdo, reflexos bicipital e patelar aumentados do lado esquerdo e reação tônica cervical diminuída também esquerda. Foi realizado um exame de ressonância magnética com a cervical em posição anatômica e, em seguida, em ventro-flexão cervical. As imagens em posição anatômica revelaram degeneração discal moderada ao longo de toda coluna cervical, sendo bastante evidente em C6-C7. Também se observou protrusão do disco neste mesmo espaço sem compressão medular significativa com diminuição da coluna liquórica ventral e discreto hipersinal da medula pelas sequências T2 e FLAIR. Nas imagens em ventro-flexão houve exacerbação da protrusão discal com obliteração total da coluna liquórica ventral e compressão do segmento medular correspondente. Não houve piora no quadro neurológico do paciente após a realização do exame.
DISCUSSÃO E CONCLUSÃO:
A EC associada à alteração do disco intervertebral é uma condição comum em cães da raça Doberman Pinscher de meia idade (PROVENCHER et al., 2016). Há estudos comprovando que a flexão e extensão da coluna cervical alteram a morfologia e biomecânica podendo exacerbar os sinais clínicos da EC (RAMOS et al., 2015). Em humanos a ressonância magnética cinemática é comprovadamente capaz de direcionar a terapia e guiar a abordagem cirúrgica (PROVENCHER et al., 2016). No presente caso não houve piora do quadro neurológico pela realização da ventro-flexão cervical para o exame de imagem. Tal fato corrobora com dados recentemente publicados onde nove cães da raça Doberman Pinscher com EC associada à alteração discal passaram por exame de ressonância magnética cinemática e não houve piora neurológica após o estudo (PROVENCHER et al., 2016). Pode-se concluir que a ressonância magnética cinemática é uma técnica segura e que traz informações mais precisas para o diagnóstico e tratamento da EC.