Uma atraente fonte de energia renovável, o biogás, produzido pela decomposição anaeróbica de matéria orgânica em processos fermentativos, permite a eliminação higiênica de resíduos orgânicos (ZAREEI, 2018). Nos países ocidentais, por exemplo, tecnologias associadas à produção de biogás vêm sendo desenvolvidas desde a década de 1970 (CHEN et al., 2012). Considerando esta fonte de energia pouco proeminente na matriz energética brasileira, identifica-se um potencial de produção de biogás a ser explorado, devido à grande geração de resíduos orgânicos em áreas rurais. No contexto de estimativas do potencial de biogás, destacam-se os cálculos teóricos baseados em parâmetros já conhecidos (MAGHANAKI et al., 2013). Assim, objetivou-se classificar os municípios do estado de São Paulo por meio de um procedimento multivariado, considerando a geração de biogás em suas áreas rurais a partir dos dejetos dos rebanhos de bovinos, galináceos e suínos e variáveis caracterizando a atividade rural (consumo de energia e valor adicionado na agropecuária). O cálculo do potencial teórico de produção de biogás em cada município foi baseado em uma metodologia adaptada dos trabalhos realizados por Batzias, Sidiras e Spyrou (2005) e Jingura e Matengaifa (2009). A partir de um levantamento bibliográfico e dados oriundos de fontes oficiais, como Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE) e Fundação Sistema Estadual de Análise de Dados (SEADE), foi possível estimar os potenciais de produção de biogás anuais de cada município considerando a população de cada rebanho, a massa de esterco seco produzida por cabeça diariamente, o fator de disponibilidade e o rendimento de biogás por massa de esterco seco. Com as variáveis caracterizando o potencial de produção de biogás (dejetos bovinos, suínos e galináceos) e outras associadas aos aspectos econômicos (consumo energético rural e valor adicionado bruto), foi construído um banco de dados com 634 municípios (11 foram excluídos por falta de alguma informação) e 5 variáveis. Inicialmente, um estudo exploratório foi realizado por meio de histogramas, gráficos de dispersão e resumos descritivos. Considerando a complexidade das inter-relações entre as variáveis, utilizou-se o procedimento multivariado de análise de agrupamento, baseando-se em similaridades entre elementos na formação de grupos (ARAÚJO; URIBE-OPAZO; JOHANN, 2013). Optou-se pela técnica hierárquica de agrupamento para se identificar possíveis agrupamentos. A escolha do método de agrupamento e da medida de similaridade se deu pela análise do coeficiente de correlação cofenético de diferentes combinações. Com os agrupamentos formados, realizou-se o mapeamento dos municípios e suas caracterizações. Para execução destas análises utilizou-se o ambiente livre R-Gui. Foram identificados 8 clusters municipais via dendrograma e Método do Cotovelo, com validação pelo Método da Silhueta. Foi possível estimar um potencial de biogás anual para o Estado de aproximadamente 1,685 bilhões de metros cúbicos. Os clusters/agrupamentos foram formados por municípios disjuntos e, destaca-se que apenas dois destes clusters apresentaram médias de potencial de biogás anuais por município inferiores à média municipal do Estado (2,657 milhões de metros cúbicos). Na Mesorregião do Vale do Paraíba concentraram-se municípios pertencentes ao grupo mais numeroso (423 municípios). Bastos e Miguelópolis foram classificados em dois grupos distintos isoladamente.